Como convivo com ‘o meu Parkinson’

Pedro Cury tem 84 anos. Há mais de duas décadas, ele foi diagnosticado com a doença de Parkinson. Durante este tempo todo, seu Pedro aprendeu a lidar com os sintomas, com as mudanças na rotina, com os novos hábitos. Seu Pedro superou – e supera – obstáculos diariamente. Obstáculos que só ele sabe como são. E, é por isso, que seu Pedro chama a doença que enfrenta de ‘o meu Parkinson’. Leia aqui o depoimento otimista e cheio de esperança.

“Mal de Parkinson, doença de Parkinson, não importa qual denominação. Daqui para frente, será o meu Parkinson. Posso chamá-lo assim por que, desde que fui diagnosticado, há mais de 20 anos, e pelas suas características, já posso aceitá-lo como só meu. Minha propriedade e responsabilidade. Explico: o Parkinson não é uma doença transmitida pela picada de um mosquito nem é adquirida pelo contato com quem já tem a doença. Ela simplesmente aparece sem nenhuma explicação, sem pedir licença. Sorrateiramente. Isso me permite dizer, pelo menos até agora, que ela estava lá desde o início da minha vida, como que adormecida no meu cérebro em formação (agora já estão falando também no intestino), à espera do momento oportuno e propício para se manifestar. E, tem mais. As experiências (de vida) passadas das pessoas podem influenciar no aparecimento precoce ou tardio da doença. E, ela com certeza virá com características diferenciadas para cada pessoa. Por isso digo, o meu Parkinson.

No dia 18 de novembro de 2016, fiz a cirurgia DBS (sigla em inglês para Estimulação Cerebral Profunda). Tenho tristes recordações da doença antes dessa data. Nos dois anos antes da cirurgia, só conseguia me deslocar em cadeira de rodas. Tinha que suportar uma irritante rigidez muscular, que me impedia de fazer os movimentos mais banais, como calçar meias, levar o garfo à boca, me virar na cama, vestir uma camisa. Jogar tênis, meu esporte predileto, nem pensar.

Ouso dizer que, uma das causas que propiciou a manifestação do Parkinson ou, pelo menos, facilitou seu surgimento, foi o meu temperamento tímido e angustiado. Desde minha adolescência, nunca consegui externar meus sentimentos e emoções. Embutia-os, recalcava-os, criando com isso uma couraça de proteção contra não sei bem o que. Essa couraça, com o tempo, ficou tão espessa, que precisei 4 anos de terapia para conseguir entendê-la e diminuir um pouco sua espessura. Mas, durante quase toda a minha vida, embuti sentimentos e emoções. Não há cérebro que aguente. Tinha, num certo momento, que estourar. E foi o que aconteceu. No meu caso, foi o Parkinson. É claro que existem outros fatores, a maioria desconhecidos, para explicar o surgimento da doença. Não descarto nenhum.